terça-feira, 28 de junho de 2011

ENTREVISTA com o Prof. Cláudio Barbosa

O professor de língua portuguesa da Universidade Estadual do Ceará, Claudio Barbosa, a quem agradecemos a gentileza, concedeu-nos uma entrevista 




Equipe do blog - Para você, o que significa o ensino da gramática normativa?


Prof. Cláudio B. - O ensino da gramática normativa é a orientação para o emprego da gramática descritiva com base nos grandes escritores.Desprezando as variações de uso mais frequente da maioria da população, os gramáticos brasileiros, principalmente os que se destacaram até os anos setenta do século passado, listaram casos do emprego da língua, colheram exemplos, inclusive de Camões, e determinaram um padrão de emprego do idioma. Foram listas de normas, para que o estudante escrevesse bem; o que é contraditório, pois escrever bem não é empregar as normas gramaticais estabelecidas pela gramática normativa.A população brasileira, inclusive hoje, sempre teve uma educação sem qualidade. Isto fez com que o que as gramáticas prescrevessem ficasse ignorado e caísse no vazio, pois a norma e a prática se distanciavam muito.Como as universidades dominam a divulgação e controlam as publicações, porque é o local dos intelectuais mais preparados, os gramáticos passaram a ter fama de acadêmicos de alto nível. Os concursos tinham as questões da gramática normativa.Ainda hoje, há gramáticos que adotam este comportamento. Os estudos linguísticos mais modernos estão desmitificando este domínio, deixando claro que esta é uma variação de um grupo de dominadores.Os gramáticos normativos confundiram tanto o usuário acerca do uso da língua, que quase toda a população desvela que não sabe português. Um nativo brasileiro afirmar que não sabe português é sinal de que a educação linguística foi camuflada.

Equipe do blog - Você é favorável, como propõe o livro "Por uma vida melhor", a inserção de aspectos
sociolinguísticos no ensino da gramática normativa?

 Prof. Cláudio B. - As variações populares do uso da língua devem ser respeitadas, porque as pessoas são geneticamente diferentes, têm ambientes sociais diferentes, participam de manifestações culturais diferentes e têm educação familiar diferente.Não se deve, por outro lado, fazer disso outro mecanismo político para a dominação dos indivíduos.O que deveria haver era uma educação de qualidade. Há umas duas décadas, dados mostraram que somente 1,73% da população brasileira tinha nível superior. A mudança desta situação foi insignificante. Embora o número de formados tenha aumentado, devido à quantidade de universidades particulares, que foram criadas, os estudantes brasileiros têm os piores desempenhos em testes internacionais, que aquilatam o ensino básico.


 Equipe do blog - Que consequências teriam na sala de aula com a aplicação das variantes linguísticas
no ensino da língua portuguesa?

Prof. Cláudio B. - Caso sejam aplicadas as variações populares em sala de aula, não haverá mudanças importantes no ensino. Algum grupo pode até se manifestar que projetos tiveram resultados satisfatórios, mas o ensino do país continuará do mesmo jeito: sem qualidade. Mais uma vez, será aplicada uma proposta elaborada pelos dominadores.

Equipe do blog - Na sua visão de gramático, existe o preconceito linguístico?

Prof. Cláudio B. - O preconceito linguístico existe. O Brasil é um país preconceituoso. Os preconceitos social e racial são evidentes. As pessoas sem escolaridade ou com escolaridade precária, que expressam as variações populares da língua, estão excluídas das provas de seleção, não têm emprego digno e são ridicularizadas, até por quem tem poucos conhecimentos da língua. Governo algum do Brasil teve como preocupação principal educar a população: isto traria prejuízo político. O governo adota apenas medidas de controle político, como a aplicação do ENEM e a adoção de livros que expressam a variação linguística popular.Está na hora de o Brasil se espelhar no Canadá e na Finlândia e voltar-se para a educação.



3 comentários:

  1. tive o prazer, a honra e a sorte de estudar com o Professor Cláudio. Excelente mestre, excelente pessoa!

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  2. Ola!
    Sou do nordeste e estou a 7 meses em SP...Tenho experiencia em sala de aula, com educação infantil,tenho vários cursos,estou sempre procurando atualizar-me na area. E chegando aqui fui trabalhar em uma escola " privada" e logo q descobriu que eu era do nordeste me dispensou e falou que estava me dispensando por medo das crianças nao compreenderem o que eu estava falando! kkkkkkkkkkkkkkkk dar para acreditar!? Eu faço outra pergunta Será que eu venho do outro mundo,falo uma lingua que nao me compreendem!? Até onde posso atrapalhar

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  3. Esse professor é demais! ♥

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