domingo, 26 de junho de 2011

RESENHA

SERIA A LÍNGUA FALADA MAIS POBRE QUE A LÍNGUA ESCRITA?
Ataliba T. de Castilho


Ataliba T. de Castilho traz em seu artigo “Seria a língua falada mais pobre que a língua escrita?” uma revisão sobre os estudos desenvolvidos no Brasil para analisar a língua falada, a língua escrita e a incorporação da língua falada nas salas de aula. Nesse artigo, ele se propõe a apresentar as diferenças entre os dois tipos de usos da linguagem. Para isso, Castilho começa com uma rápida introdução, na qual ele apresenta a ideia de que, presentemente, a língua falada “é de todos”, e que, infelizmente, a língua escrita continua pertencendo somente às classes mais escolarizadas. Terminada a introdução do texto, o autor passa a explicar o processo histórico do estudo da língua falada no Brasil, deixando claro que, a partir dos anos 60, grupos de pesquisadores de várias universidades do país se uniram na tarefa de documentar e descrever a língua, além de refletir sobre ela. Já no início desse percurso, em 1969, o professor Nélson Rossi convoca uma reunião entre as pessoas que viriam a ser coordenadores do projeto NURC no Brasil. O Projeto tinha como objetivo documentar a fala de 600 informantes a serem analisadas nos quesitos: Fonética, Fonologia, Morfossintaxe e Léxico. A partir desse momento, as pesquisas brasileiras sobre a língua falada passam por uma grande aceleração. O próprio Castilho propõe e dá início, em 1988, ao Projeto Gramática do Português Falado (GRPF), que tinha como referencial o português culto falado no Brasil. Analisando mais firmemente a estrutura dos textos orais, Castilho salienta a necessidade de interação entre os interlocutores, considerando que tal interação leva o falante a uma maior preocupação com o entendimento do que está sendo dito, pois não há um planejamento de idéias a serem faladas. Já em textos escritos, explica o autor, a ausência de um leitor nos obriga a uma exposição mais clara dos fatos, pois não se pode acompanhar o raciocínio de quem está lendo, logo, não é possível dizer se o leitor está entendendo ou não o que  se pretende dizer, expressar. Por isso, Castilho deixa claro que escrever é uma tarefa solitária, pois, enquanto a realizamos, encontramos somente orações prontas, dotadas de sujeito, verbo e complemento, enquanto na fala encontramos orações com duas estruturas: uma estrutura orientada para a sintaxe e uma estrutura orientada para o discurso, esta constituída de um monitoramento do interlocutor. Terminada a apresentação das diferenças entre cada uso da linguagem, seja ela escrita ou oral, Castilho aparece com a defesa do ensino da língua falada nas escolas, observando que as próprias instituições de ensino insistem no uso de livros com afirmações em que ninguém mais acredita, privando os alunos de se beneficiarem das pesquisas sobre a oralidade no Brasil. Ele ainda lembra que as gramáticas tradicionais apóiam-se na língua escrita, privilegiando a língua literária, a partir do momento em que os primeiros gramáticos, baseando-se em livros de grandes escritores do passado, compararam a língua escrita à língua falada e chegaram a conclusão de que a língua falada seria caótica e que apenas a língua escrita merecia ser estudada. Terminado o estudo acerca do processo estrutural da oração, o autor traz à tona a riqueza da língua falada e faz dela um importante, fundamental, essencial assunto a ser abordado em sala de aula. Como maneira de aplicar e tornar viável aos alunos a consideração do conhecimento prévio e a perda de certos preconceitos linguísticos, o autor sugere que haja uma substituição de aulas expositivas de idéias para por aulas que sejam mediadas por um professor capacitado a ensinar aos alunos a pesquisarem acerca da linguagem que é usada na vida, ou seja, o autor persiste na ideia de que a escola deveria imitar a vida, promovendo uma introdução à existência das variações lingüísticas e o abandono da supervalorização do escrito sobre o oral. Ao concluir seu artigo, Castilho traz reflexões sobre a profundidade das diferenças entre língua falada e língua escrita, apresentando um panorama geral da diversidade na produção de cada uma delas, bem como seus usos em sala de aula. 





 Postado por Tamara Maia Moreira

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