terça-feira, 28 de junho de 2011

ENTREVISTA com o Prof. Cláudio Barbosa

O professor de língua portuguesa da Universidade Estadual do Ceará, Claudio Barbosa, a quem agradecemos a gentileza, concedeu-nos uma entrevista 




Equipe do blog - Para você, o que significa o ensino da gramática normativa?


Prof. Cláudio B. - O ensino da gramática normativa é a orientação para o emprego da gramática descritiva com base nos grandes escritores.Desprezando as variações de uso mais frequente da maioria da população, os gramáticos brasileiros, principalmente os que se destacaram até os anos setenta do século passado, listaram casos do emprego da língua, colheram exemplos, inclusive de Camões, e determinaram um padrão de emprego do idioma. Foram listas de normas, para que o estudante escrevesse bem; o que é contraditório, pois escrever bem não é empregar as normas gramaticais estabelecidas pela gramática normativa.A população brasileira, inclusive hoje, sempre teve uma educação sem qualidade. Isto fez com que o que as gramáticas prescrevessem ficasse ignorado e caísse no vazio, pois a norma e a prática se distanciavam muito.Como as universidades dominam a divulgação e controlam as publicações, porque é o local dos intelectuais mais preparados, os gramáticos passaram a ter fama de acadêmicos de alto nível. Os concursos tinham as questões da gramática normativa.Ainda hoje, há gramáticos que adotam este comportamento. Os estudos linguísticos mais modernos estão desmitificando este domínio, deixando claro que esta é uma variação de um grupo de dominadores.Os gramáticos normativos confundiram tanto o usuário acerca do uso da língua, que quase toda a população desvela que não sabe português. Um nativo brasileiro afirmar que não sabe português é sinal de que a educação linguística foi camuflada.

Equipe do blog - Você é favorável, como propõe o livro "Por uma vida melhor", a inserção de aspectos
sociolinguísticos no ensino da gramática normativa?

 Prof. Cláudio B. - As variações populares do uso da língua devem ser respeitadas, porque as pessoas são geneticamente diferentes, têm ambientes sociais diferentes, participam de manifestações culturais diferentes e têm educação familiar diferente.Não se deve, por outro lado, fazer disso outro mecanismo político para a dominação dos indivíduos.O que deveria haver era uma educação de qualidade. Há umas duas décadas, dados mostraram que somente 1,73% da população brasileira tinha nível superior. A mudança desta situação foi insignificante. Embora o número de formados tenha aumentado, devido à quantidade de universidades particulares, que foram criadas, os estudantes brasileiros têm os piores desempenhos em testes internacionais, que aquilatam o ensino básico.


 Equipe do blog - Que consequências teriam na sala de aula com a aplicação das variantes linguísticas
no ensino da língua portuguesa?

Prof. Cláudio B. - Caso sejam aplicadas as variações populares em sala de aula, não haverá mudanças importantes no ensino. Algum grupo pode até se manifestar que projetos tiveram resultados satisfatórios, mas o ensino do país continuará do mesmo jeito: sem qualidade. Mais uma vez, será aplicada uma proposta elaborada pelos dominadores.

Equipe do blog - Na sua visão de gramático, existe o preconceito linguístico?

Prof. Cláudio B. - O preconceito linguístico existe. O Brasil é um país preconceituoso. Os preconceitos social e racial são evidentes. As pessoas sem escolaridade ou com escolaridade precária, que expressam as variações populares da língua, estão excluídas das provas de seleção, não têm emprego digno e são ridicularizadas, até por quem tem poucos conhecimentos da língua. Governo algum do Brasil teve como preocupação principal educar a população: isto traria prejuízo político. O governo adota apenas medidas de controle político, como a aplicação do ENEM e a adoção de livros que expressam a variação linguística popular.Está na hora de o Brasil se espelhar no Canadá e na Finlândia e voltar-se para a educação.



segunda-feira, 27 de junho de 2011

ARTIGO DE OPINIÃO-EM DEFESA DA GRAMÁTICA



         O título desse artigo já se tornaria equivocado. Por que uma defesa? Existiria um inimigo da gramática? A utilização desse termo já demonstra que até os usuários da norma culta, que se utilizam desse termo, não conseguem unir dois tipos de abordagens da língua: a gramática e a (sócio) lingüística.
          Falar em defesa nos transmite um combate em que se defende e outro que ataca. Se defendemos uma dessas vertentes, é porque acreditamos que ela seja mais “correta” que a outra. Mas o ideal não seria apresentar, nas escolas, juntamente a gramática normativa e as variações lingüísticas? Só que com um diferencial: ensinando em que contexto se pode utilizar cada uma delas? Sim, seria. No entanto, até os que utilizam a norma culta ainda não conseguem se adaptar à uma “camaradagem” da norma culta e popular, como alunos acostumados à uma abordagem fixa sobre a língua seriam aptos a saber diferenciar em que ocasião utilizar cada uma delas? Se só com o ensino da norma padrão esses alunos ainda comentem deslizes ao misturar a norma culta e norma popular, tanto na escrita como na oralidade, imagina se lhes mostrassem que a sua fala não está errada. Os alunos, com certeza, sentiriam-se mais livres para falar “da sua maneira”, só que não iriam querer se utilizar das duas maneiras, mas sim daquela que ele já sabe.
        Seria uma desvalorização involuntária do ensino da gramática. Com o ensino apenas da norma padrão, os alunos ainda escrevem em uma redação “escultar” “preuculpado”, marcas registradas da língua oral. Se permitirmos a utilização da norma popular livremente, estaremos estimulando o aluno ao erro tanto na escrita, porque ele irá, sem perceber, reproduzir o que fala na escrita, como nas ocasiões formais, pois fica difícil policiarmos a nossa fala só em certas ocasiões, pois a fala que queremos utilizar em outros momentos sai tão livre e sem preocupações.
         Como dizer que podemos falar com as “variantes lingüísticas”, mas logo após, colocando uma ressalva que se pode sofrer um preconceito lingüístico com isso. Como falar de maneira livre, se em vestibulares e concursos querem cobrar a norma padrão? Quanto mais dominamos a sintaxe, mais articulada, objetiva e claramente comunicamos. A gramática nos dá condições de raciocínios mais complexos. Desde quando o falar popular nos propicia uma evolução cultural e econômica?


Mariane Pontes Frota

FÓRUM DE DISCUSSÃO





Depois de várias discussões, entre uma aula e outra, a respeito dos caminhos que o blog deveria seguir, os posicionamentos inerentes às mensagens postadas e de todo o material coletado para exposição, resolvemos (até porque a metodologia do trabalho exige) formalizar e compartilhar com todos os amigos e visitantes desta página uma parte dessa discussão e o relacionamento que cada um teve com esta ferramenta (proposta pela professora Aluiza) para que pudéssemos, publicamente, expor nossos trabalhos e esforços.


Tamara Maia Moreira: Eu sei que nosso tema é Sociolingüística e Ensino, mas uma dúvida que eu tenho: de onde surgiu esse nome SOCIOLINGUINSTICOENSIDAMENTE, Teófilo?

Teófilo Leite Beviláqua: Eu queria chamar a atenção. O nome, por si só, já dá mostras de algo novo, por se tratar de um neologismo. Peguei os nomes envolvidos no tema do trabalho e os transformei num advérbio de modo. Se o sufixo “mente” é indicativo de modo, a tradução dessas vinte e nove letras, de trás para frente, é: um modo de ensino sociolinguístico. Mas vocês concordaram...

TM: Sim.

Mariane Pontes Frota: Sim.

TLB: E por falar em concordar, Mariane, entramos algumas vezes em impasses que pareciam indissolúveis, quando nos referíamos à introdução de uma abordagem sociolingüística no ensino da língua portuguesa. Você pode nos falar um pouco mais sobre seu ponto de vista.

MPF: Como eu já havia dito, minha posição é contrária à esta introdução. A escola tem um papel de ensinar a língua portuguesa padrão. É muito perigosa a adesão de novas maneiras de abordagem de algo que já está estabelecido. Na vida prática, as pessoas são cobradas pela língua padrão.

TMM: E como negar que há existência de variantes?

MPF: Não estou negando a existência de variantes. É claro que elas existem e fazem parte do cotidiano, mas o que estou querendo dizer é que para se ensinar uma língua, é necessário que este ensino seja feito por um sistema já estabelecido, que é a gramática, e só ela como instrumento centralizador dos conceitos a serem assimilados pelos alunos.

TLB: Mariane, como você sabe, eu me oponho às suas considerações, mas devo respeitá-las. Como você sabe, e isso eu expus em meu artigo de opinião, é uma desumanidade ditar a milhões de pessoas a “arte do bem falar e escrever”.

MPF: Acho um exagero de sua parte dizer que é uma desumanidade.

TLB: Pode ser, mas quando me refiro à desumanidade, tento apenas dizer que toda forma de imposição é desumana. Acho que a gramática pode e deve continuar a ser exercida nas escolas, mas a condução do ensino da língua não pode privar as pessoas do reconhecimento do que elas mesmas são, de sua identidade linguística, alijada até hoje, por uma espécie de necessidade de manutenção do preconceito.

TMM: Eu concordo com os dois.

MPF: Como assim?

TMM: Creio que haja sensatez em ambos. O Teófilo é um pouco mais radical em seus posicionamentos e você, Mariane, não perde a razão em colocar a vida prática como parâmetro para argumentar assim. O que não se pode esquecer é que existe o preconceito. Enquanto, cada vez mais, criam-se maneiras de banir, corretamente, várias formas de preconceito, contra a orientação sexual, contra as religiões, e contra a “raça” das pessoas, ainda não se discutiu uma forma de eliminar, por lei, o preconceito linguístico, que é tão cruel e violento quanto esses que eu disse. Por outro lado, não sei em que medida a escola conteria essa maneira de diminuir as pessoas. Esse é mesmo o papel da escola? Tenho dúvidas quanto ao papel da escola, se caberia ao espaço escolar algo que discutisse ou, como propõe o livro “Por uma vida Melhor”, ensinasse algo dessa natureza. Acho que deveria haver uma mescla das duas posições, mas não sei quando isso iria se realizar de fato.

TLB: É que a escola, teoricamente, ao meu ver, forma, induz o sujeito a ter uma visão de mundo, mesmo que primária ou superficialmente cidadã. Não haveria outro espaço para que um cidadão, e o livro “Por uma Vida Melhor” é para Jovens e Adultos, tomasse conhecimento disso. Se dependesse da televisão...E sobre o blog, Tamara? Você gostou de trabalhar assim?

TMM: Adorei. É uma forma inovadora de tornar pública as nossas discussões acadêmicas, da Uece. E você Mariane?

MPF: Eu achei que soubemos abordar de uma maneira criativa e de fácil absorção sobre um assunto tão pouco conhecido popularmente, que é a sociolingüística. E que, de certa maneira, aprendemos ensinando através do trabalho.

TLB: Apesar das visões opostas, o que é democraticamente possível e preciso, que fizemos um trabalho, na medida do possível, que revelasse as duas faces da moeda e vinculamos as possibilidades ou não do entrelaçamento da sociolingüística e do ensino. Gosto dos vídeos e o material que disponibilizamos, de trabalhos publicados, dá um grande amparo teórico para toda a discussão, embora a participação de nossos leitores tenha sido tímida, porque acho que o assunto não é, para os que estão de fora das discussões, mais diretamente, confortável para opinar.

TMM: Eu adorei o artigo do Ataliba T. de Castilho: “SERIA A LÍNGUA FALADA MAIS POBRE QUE A LÍNGUA ESCRITA?”, tanto que o resenhei.

TLB: Eu que sou da ala dos radicais sociolinguístas, quero ler tudo do Marcos Bagno. O livro “Preconceito Linguístico” é muito, muito legal. Inclusive ele tem um site marcosbagno.com.br.

MPF: Eu, seguindo minha linha de raciocínio, achei o Preconceito Linguístico. Eu acho um ótimo livro, bem cômico, principalmente quando Bagno crítica os defensores intransigentes da língua,que para mim não são nada disso.


TLB: Mariane e Tamara, NÓS PODE publicar já?

MPF: Ui....

TMM: Podemos sim...


Muito obrigado a todos pelas visitas!!!!

domingo, 26 de junho de 2011

RESENHA

SERIA A LÍNGUA FALADA MAIS POBRE QUE A LÍNGUA ESCRITA?
Ataliba T. de Castilho


Ataliba T. de Castilho traz em seu artigo “Seria a língua falada mais pobre que a língua escrita?” uma revisão sobre os estudos desenvolvidos no Brasil para analisar a língua falada, a língua escrita e a incorporação da língua falada nas salas de aula. Nesse artigo, ele se propõe a apresentar as diferenças entre os dois tipos de usos da linguagem. Para isso, Castilho começa com uma rápida introdução, na qual ele apresenta a ideia de que, presentemente, a língua falada “é de todos”, e que, infelizmente, a língua escrita continua pertencendo somente às classes mais escolarizadas. Terminada a introdução do texto, o autor passa a explicar o processo histórico do estudo da língua falada no Brasil, deixando claro que, a partir dos anos 60, grupos de pesquisadores de várias universidades do país se uniram na tarefa de documentar e descrever a língua, além de refletir sobre ela. Já no início desse percurso, em 1969, o professor Nélson Rossi convoca uma reunião entre as pessoas que viriam a ser coordenadores do projeto NURC no Brasil. O Projeto tinha como objetivo documentar a fala de 600 informantes a serem analisadas nos quesitos: Fonética, Fonologia, Morfossintaxe e Léxico. A partir desse momento, as pesquisas brasileiras sobre a língua falada passam por uma grande aceleração. O próprio Castilho propõe e dá início, em 1988, ao Projeto Gramática do Português Falado (GRPF), que tinha como referencial o português culto falado no Brasil. Analisando mais firmemente a estrutura dos textos orais, Castilho salienta a necessidade de interação entre os interlocutores, considerando que tal interação leva o falante a uma maior preocupação com o entendimento do que está sendo dito, pois não há um planejamento de idéias a serem faladas. Já em textos escritos, explica o autor, a ausência de um leitor nos obriga a uma exposição mais clara dos fatos, pois não se pode acompanhar o raciocínio de quem está lendo, logo, não é possível dizer se o leitor está entendendo ou não o que  se pretende dizer, expressar. Por isso, Castilho deixa claro que escrever é uma tarefa solitária, pois, enquanto a realizamos, encontramos somente orações prontas, dotadas de sujeito, verbo e complemento, enquanto na fala encontramos orações com duas estruturas: uma estrutura orientada para a sintaxe e uma estrutura orientada para o discurso, esta constituída de um monitoramento do interlocutor. Terminada a apresentação das diferenças entre cada uso da linguagem, seja ela escrita ou oral, Castilho aparece com a defesa do ensino da língua falada nas escolas, observando que as próprias instituições de ensino insistem no uso de livros com afirmações em que ninguém mais acredita, privando os alunos de se beneficiarem das pesquisas sobre a oralidade no Brasil. Ele ainda lembra que as gramáticas tradicionais apóiam-se na língua escrita, privilegiando a língua literária, a partir do momento em que os primeiros gramáticos, baseando-se em livros de grandes escritores do passado, compararam a língua escrita à língua falada e chegaram a conclusão de que a língua falada seria caótica e que apenas a língua escrita merecia ser estudada. Terminado o estudo acerca do processo estrutural da oração, o autor traz à tona a riqueza da língua falada e faz dela um importante, fundamental, essencial assunto a ser abordado em sala de aula. Como maneira de aplicar e tornar viável aos alunos a consideração do conhecimento prévio e a perda de certos preconceitos linguísticos, o autor sugere que haja uma substituição de aulas expositivas de idéias para por aulas que sejam mediadas por um professor capacitado a ensinar aos alunos a pesquisarem acerca da linguagem que é usada na vida, ou seja, o autor persiste na ideia de que a escola deveria imitar a vida, promovendo uma introdução à existência das variações lingüísticas e o abandono da supervalorização do escrito sobre o oral. Ao concluir seu artigo, Castilho traz reflexões sobre a profundidade das diferenças entre língua falada e língua escrita, apresentando um panorama geral da diversidade na produção de cada uma delas, bem como seus usos em sala de aula. 





 Postado por Tamara Maia Moreira

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Artigo de Opinião: OS BODE EXPIATÓRIO



Não é novidade para ninguém que, em uma língua, a diferença entre o que se fala e o que se escreve está nítida até para as pessoas com pouquíssimo grau de escolaridade. No entanto, contrariando esta lógica, a publicação do livro “Por uma vida melhor”, aprovado pelo MEC para ser distribuído em escolas públicas, no ensino de Jovens e Adultos, revelou a revolta de alguns sábios e letrados quanto ao conteúdo de apenas um capítulo do livro, o que trata justamente da diferença entre a escrita e a fala, mais especificamente no que se refere à “subversão” da concordância nominal e verbal em relação aos ditames da Gramática.
Um dos argumentos dos “sábios” é que o livro ensina a falar errado. Ora, o próprio uso do termo “errado” já dá o tom de toda a manobra nefasta empregada pelos opositores da publicação do livro, porque evidencia uma dicotomia autoritária do uso da língua portuguesa, um maniqueísmo histórico entre o bem culto e o mal popular. O livro não ensina ninguém a falar errado, porque apenas apresenta, por exemplo, uma construção como “os livro...” aceitável dentro de seu universo. A norma culta, aliás, é o que dirige todo o livro, não se compreendendo o porquê de tanto alarde, de tanto ódio contra o reconhecimento do que é fato consumado e irreversível. Jornalistas, comentaristas avulsos e gramáticos, levantaram a bandeira da moral e dos bons costumes linguísticos contra o que já deveria ser (porque é) natural: a utilização e a existência de variedades lingüísticas. Eles evidenciaram que sequer leram a obra, que ouviram dizer que não sei quem disse, que não sei quem comentou, e isso com um ar de verdade que convenceria até um ateu de que Deus existe...Francamente!
Os autores de “Por uma vida Melhor” deram uma mostra de humanidade, de verdadeira educação cidadã ao alertarem os alunos para o fato de que seus regimentos linguísticos, trazidos de casa, da rua ou de onde for, não estão “errados”, mas que precisam estar adequados à determinadas situações para que o preconceito linguístico contra eles mesmos não se deflagre mais evidente, já que uma das formas de menosprezar uma pessoa neste país é por meio da estigmatização de sua fala. Isto, por uma lógica completamente infantil, já induz a conclusão de que, para se ter o reconhecimento do ambiente onde determinadas construções podem ou não serem utilizadas é preciso que o aluno TAMBÉM se aproprie da norma culta da linguagem, o que enriquece ainda mais seu grau crítico e a compreensão do funcionamento do que sai de sua boca através de palavras. Assim, é preciso, sim, apoderar-se da norma culta. Os sábios não pensaram assim. Os sábios não pensaram. Sábios pensam que pensam o quê?
A televisão, que deveria ser responsável, utilizando-se de seu poder irrestrito de difundir tudo o que lhe interessa, tratou o caso como um grande absurdo, um câncer educacional, o reforço da ignorância por parte do próprio governo para com seus governados. Que bobagem! Entre o aparelho e o telespectador há muito mais mistérios que a nossa vã audiência imagina. Lula falava errado mais pelo desconhecimento das regras sacrossantas das gramáticas que pelo apelo de se aproximar de seu povo, embora esta segunda possibilidade não se descarte de todo.
A quem esta defesa da norma culta interessa? Há motivos políticos entranhados nas manifestações da intelectualidade conservadora? O que há de partidário em querer mostrar para os brasileiros que sua linguagem nunca foi, não é e nunca será errada? Quem concorda em concordar que a concordância concorre com o que ocorre entre várias ocorrências? Eis algumas questões, feridas abertas e, ao que parece, ainda não cicatrizadas pelo ranço doentio de quem vê na Gramática normativa a única maneira de expressão possível dentro de um leque de possibilidades absolutamente grande, tamanha as diferenças sociais, culturais e econômicas deste Brasil.
Os bode expiatório (desculpem-me, sábios) não são os autores do livro. Os bode são justamente a grande maioria da população brasileira que tem, mais uma vez, usurpado um de seus direitos, o de ter acesso aos esclarecimentos a respeito do caso e ter a liberdade de lidar com sua história linguística sem a histeria megalomaníaca da grama ártica, fria e rasteira, dos grandes teórico-retrógrados. A gramática não pode ser um juiz supremo. Tem lá sua importância como modalidade de dar estabilidade à língua, mas sem nunca manifestar a desumanidade de imprimir a milhões de pessoas “a arte do bem falar e escrever”.
Não é só por uma vida melhor. É por um país maior, no sentido democrático da palavra. Se a “vida melhor” estiver dentro de uma fórmula de bolo impregnada de infortúnios ditatorias, o bolo continuará queimado pelas fogueiras inquisitoriais dos puristas. Precisamos de mais açúcar.



Teófilo Leite Beviláqua 

terça-feira, 7 de junho de 2011

RESUMO-O PRECONCEITO CONTRA A LINGUÍSTICA E OS LINGUÍSTAS


1. Gramática tradicional: uma “religião” mais velha que o cristianismo

           Este capítulo do livro “Preconceito Linguístico” de Marcos Bagno, aborda uma crítica ao porque a linguagem é a única disciplina que existe uma disputa entre duas perspectivas distintas: a doutrina gramatical tradicional, surgida no mundo helenístico no século III a.C., e a linguística moderna, que se firmou como ciência autônoma no final do século XIX e início do XX.

              Bagno inicia comentando que hoje, claro, já é considerado equivocado alguém dizer que a terra é plana, que o sol gira em torno da terra. Essas são ideias ultrapassadas e que começaram a ser substituídas por novas concepções mais verossímeis. Mas ninguém se espanta se um professor ainda ensina as formas arcaicas de nossa língua. Os termos e conceitos da gramática tradicional-estabelecidos há mais de 2.300 anos, continuam a ser repassados praticamente intactos de uma geração de alunos para outra, como se desde aquela época remota não tivesse acontecido nada na ciência da linguagem. Querer cobrar, hoje em dia, a observância dos mesmos padrões linguísticos do passado é querer preservar, ao mesmo tempo, ideias, mentalidades e estruturas sociais do passado.

            O ensino tradicional opera uma imobilização do tempo, um apagamento das condições sociais e histórias que permitiram o surgimento e a permanência da gramática tradicional. A língua assim, não fica sendo vista como objeto cientifico, e os mais importantes cientistas da linguagem (Grimm, Saussure, Jakobson, Sapir, Chomsky, Labov etc.) não têm lugar na galeria dos grandes pensadores que revolucionaram nosso modo de encarar o mundo e o que existe nele.

            A gramática tradicional é uma ideologia linguística, o lugar das certezas, uma doutrina sólida e compacta, com uma única resposta correta para todas as dúvidas. Já a linguística moderna, encara a língua como um objeto passível de ser analisado e interpretado, ela devolveu a língua ao seu lugar de fato social, abalando noções antigas que apresentavam a língua como um valor ideológico.

                Então se percebemos toda essa evolução de nossa língua, porque essa gramática imposta a nós não muda?Ora, o novo assusta, o novo compromete as estruturas do poder e dominação há muito vigente. O grande problema está na confusão que reina na mentalidade das pessoas que atribuem uma “crise” à língua,quando,de fato, a crise existe é na escola, é no sistema educacional brasileiro, classificado entre os piores do mundo.

2.Desvaneios de idiotas e ociosos

               Bagno cita especialmente dois nomes que são considerados por ele como perpetuadores do preconceito contra linguístas e a linguística. São Pasquale Cipro Neto e Evanildo Bechara. Bechara já declarou, por exemplo, que a função da escola é levar os alunos a falar “melhor e com os melhores” porque em sua opinião existe uma “necessidade da vigência da hierarquização e da normatividade”. Recentemente, ele acusou lingüistas e pedagogos de “recomendar” para o ensino uma coisa que tem “ineficácia cultural: a língua viva do povo”. Ora, Pasquale Cipro Neto consegue ser mais conservador e elitista ainda do que Bechara, ele fala de “linguístas defensores do vale-tudo, numa absoluta distorção do verdadeiro papel do linguísta como investigador de todos os fenômenos da língua, e não como caçador de “erros” e juiz do uso.

3.A quem interessa calar os linguístas?

              É um caso a se perguntar: há outras forças que não nos deixam falar?A quem interessa manter calados os estudiosos da linguagem?Por que o discurso gramatical tradicional, já tão amplamente criticado pelos cientistas da linguagem com bases em teorias e métodos consistentes e coerentes, ainda tem tanto vigor e obtém tanta defesa?Que ameaça ao tipo de sociedade em que vivemos representa a democratização do saber linguístico, a liberação da voz de tantos milhões de pessoas condenadas ao silencio por “não saber português” ou por “falar tudo errado”?Esperamos que a discussão feita pelo livro “Preconceito lingüístico” de Marcos Bagno, o ajude a encontrar respostas para essas perguntas tão inquietantes.


Mariane Pontes Frota

segunda-feira, 6 de junho de 2011

RESUMO-A DESCONSTRUÇÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO

        Marcos Bagno inicia esse capítulo do livro “Preconceito Linguístico”com uma pergunta: como poderemos romper o círculo vicioso do preconceito linguístico? E neste capítulo será uma tentativa de se ter essa resposta. Lembrando que o circulo vicioso é: a gramática tradicional; os métodos tradicionais de ensino; e os livros didáticos.Todos eles já comentados na última postagem.

         Para encontrarmos a resposta da pergunta iniciada no capítulo, Bagno primeiro nos leva a algumas considerações. Ele comenta que já existem muitos professores alertados em debates e conferências ou pela leitura de bons textos que já não recorrem tão exclusivamente à gramática normativa. Só que infelizmente eles sentem falta de outros instrumentos didáticos que o ajudem nessa abordagem diferenciada em função da sociolingüística.

         Esse capítulo é essencialmente reservado a uma crítica, por que o acesso às formas prestigiadas de falar é exclusivo a poucas pessoas no Brasil? Diríamos que essa pergunta envolve razões políticas, econômicas, sociais e culturais. Podemos observar isso só na quantidade injustificável de analfabetos que existe neste país.Mas não estamos falando  só em analfabetos absolutos, existem aqueles que não compreendem textos mais longos, ou que ainda permanecem no nível básico e não são considerados completamente alfabetizados. Temos milhões de desempregados e ao mesmo tempo sobram vagas para cargos e funções que exigem um nível de formação um pouco acima daquela média. Com tantos analfabetos plenos e funcionais, lamentar a “decadência” ou “a corrupção” da “língua culta” no Brasil é, no mínimo, uma atitude cínica.

         Segundo, por razões históricas e culturais, a maioria das pessoas plenamente alfabetizadas não cultiva nem desenvolvem suas habilidades lingüísticas. Ler e, sobretudo, escrever não fazem parte da cultura das nossas classes sociais mais escolarizadas. Além disso, nossa população socioeconômica mais privilegiada não faz da leitura um de seus hábitos culturais mais freqüentes. Bagno fala que o ensino tradicional em vez de incentivar o uso das habilidades lingüísticas do individuo, deixando-o expressar-se livremente, age exatamente ao contrário: interrompe o fluxo natural da expressão e da comunicação com a atitude corretiva (e muitas vezes punitiva). Como consequência, temos a criação de um sentimento de incapacidade e incompetência do falante.

         Então realmente o problema está no modo como se ensina português e naquilo que é ensinado sob rótulo de língua portuguesa. A norma-padrão não corresponde à língua usada pelas pessoas cultas do Brasil nos dias de hoje, mas sim a um ideal lingüístico inspirado no português literário de Portugal, nas opções estilísticas dos grandes escritores do passado, nas regras sintáticas que mais se aproximem dos modelos da gramática latina, ou simplesmente no gosto pessoal de um gramático. A distância entre norma culta real (isto é, as variedades urbanas de prestígio) e a norma culta ideal (a norma-padrão convencional) são óbvias. Para separar o ideal do real, é necessário empreender a identificação e a descrição da verdadeira língua falada e escrita pelas classes privilegiadas do Brasil.

         É preciso escrever uma gramática da língua urbana de prestigio brasileira em termos simples (mas não simplistas), claros e precisos, com um objetivo declaradamente didático-pedagógico, que sirva de ferramenta e prática para professores, alunos e falantes em geral. Sem essa gramática que nos descreva e explique a língua efetivamente falada pelas classes mais letradas,continuaremos a mercê das gramáticas normativas tradicionais.

1. Mudança de atitude                                   

         Enquanto essa gramática não chega, temos que combater o preconceito linguístico.Segundo Bagno, para iniciarmos esse combate devemos ter uma mudança de atitude. Começando por elevar o grau da autoestima linguística e recusar os argumentos que visem menosprezar o saber linguístico de cada um de nós. Temos que nos impor como falantes competentes de nossa língua, acionar nosso senso crítico toda vez que nos depararmos com um comando paragramatical,filtrar as informações realmente úteis,deixando de lado as afirmações preconceituosas,autoritárias e intolerantes.Já da parte do professor,essas mudanças de atitude devem refletir-se na não-aceitação de dogmas,na adoção de uma nova postura(crítica) em relação a seu próprio objeto de trabalho.

         A gramática normativa tenta nos mostrar a língua como um pacote fechado, um embrulho pronto e acabado. Mas não é assim. A língua é viva, dinâmica, está em constante movimento.

2. O que é ensinar português

         Uma das maneiras que podemos também romper com o circulo vicioso do preconceito linguístico, é na prática de ensino.Precisamos rever toda uma série de “velhas opiniões formadas” que ainda nos dominam. Os métodos tradicionais de ensino da língua portuguesa no Brasil visam, por incrível que pareça, a formação de professores de português. O ensino da gramática normativa mais estrita, não serve para formar um bom usuário da língua em sua modalidade prestigiada, falada ou escrita. Os professores que devem conhecer profundamente a mecânica do idioma, porque são os instrutores, os especialistas, os técnicos. Mas não os alunos. Precisa-se então voltar para a descoberta de novas maneiras que permitam fazer dos alunos bons usuários da língua.

3. O que é erro

         Outro modo interessante de romper com o círculo vicioso do preconceito linguístico, segundo Bagno é reavaliar a noção de erro. O “erro de português “é, na verdade, mero desvio da ortografia oficial. A ortografia oficial é fruto de um gesto político, é determinado por decreto, é resultado de negociações e pressões de toda ordem (geopolíticas, econômicas, ideológicas). Mas existem ditos “erros de português” que não alteram a sintaxe nem a semântica do enunciado: o que mudou foi só a ortografia. Bagno nos afirma que ninguém comete erros ao falar sua própria língua materna, assim como ninguém comete erros ao andar ou ao respirar. Só se erra aquilo que é aprendido, naquilo que constitui um saber secundário. Em relação à língua escrita, seria pedagogicamente proveitoso substituir a noção de erro pela de tentativa de acerto.

4.Então vale tudo?

        Então pensaremos, com a eliminação da noção de erro, em termos de língua, vale tudo?Na verdade em termos de língua, tudo vale alguma coisa segundo Bagno. Vale: no lugar certo, no contexto adequado, com pessoas certas. Usar a língua, tanto na modalidade oral como na escrita, é encontrar o ponto de equilíbrio entre dois eixos: o da adequação e o da aceitabilidade.

 5. A paranóia ortográfica

        Marcos Bagno faz um comentário crítico à atitude tradicional do professor de português, que ao receber um texto produzido pelo aluno,procura imediatamente os “erros”, só se importando com a forma, sem se importar com o conteúdo. E é isso que Bagno chama de paranóia ortográfica. Para ele, saber ortografia não tem nada a ver com saber a língua. São dois tipos diferentes de conhecimento.A gramática se filia à tradição que atribui ao domínio da escrita um elemento de distinção social, que é na verdade um elemento de dominação por parte dos letrados sobre os iletrados. Existe um mito que diz que a escrita tem o objetivo de “difundir as idéias”,no entanto ,a sua finalidade é oposta, é ocultar o saber, reservá-lo a uns poucos para garantir o poder àqueles que a ela tem acesso. Portanto vamos abandonar a idéia de que quem escreve “tudo errado” é um “ignorante” da língua. O aprendizado da ortografia se faz pelo contato intimo e frequente com textos bem escritos, e não com regras mal elaboradas.

6. Subvertendo o preconceito lingüístico

        Bagno nos fala que por mais que isto seja triste, é preciso reconhecer que o preconceito linguístico está aí, firme e forte. Não podemos ter uma ilusão de querer acabar com ele de uma vez, porque isso só será possível quando houver uma transformação radical do tipo de sociedade em que estamos inseridos. Apesar disso, Bagno acredita que podemos combater com pequenos atos esse preconceito;com professores formados e informados, professores cientistas investigadores que abandonem a atitude repetidora e reprodutora de uma doutrina gramatical, com professores que sempre fazem crítica ativa na prática de ensino sobre essa gramática,e que diante de cobranças de pais, diretores ou donos da escola,mostrem que as ciências evoluem, e que a ciência da linguagem também evolui.



Mariane Pontes Frota
                  

domingo, 5 de junho de 2011

RESUMO-O CIRCULO VICIOSO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO DE MARCOS BAGNO


         Neste capítulo do livro “Preconceito lingüístico”,Bagno nos mostra de forma clara e objetiva,uma crítica àqueles que cultuam a norma culta e àqueles que não a domina.


        Primeiro vamos conhecer o que é esse círculo vicioso proposto por Marcos Bagno. Ele é composto por três elementos: a gramática tradicional, os métodos tradicionais de ensino e os livros didáticos. Bagno costuma denominá-los de “Santíssima Trindade” do preconceito lingüístico,segundo ele, com todo respeito aos seus amigos teólogos. A pergunta é: como se forma esse círculo? Então temos a gramática normativa tradicional que inspira a prática de ensino e, por sua vez, provoca o surgimento da indústria do livro didático, cujos autores -fechando esse círculo-recorrem à gramática normativa como fonte de concepções e teorias sobre a língua.

           Essa gramática tradicional continua firme e forte, como podemos verificar nas gramáticas mais recentes. Continua sendo abordada nas escolas, mas a tendência atual, a crítica dos preconceitos e o exercício da tolerância tem tornado o ambiente escolar mais respirável e democrático quanto a isso. O Ministério da Educação tem feito esforços para provocar uma reflexão sobre os temas relativos à ética e à cidadania, para estimular uma postura menos dogmática e mais flexível. Temos que esperar para ver em que medida esses esforços se refletirão na prática quotidiana, efetiva dos professores em sala de aula. Os parâmetros curriculares nacionais (PCN's) reconhecem que existe mesmo muito preconceito decorrente do valor atribuído às variedades padrão e ao estigma associado às variedades não padrão, consideradas inferiores ou erradas pela gramática. Para cumprir bem a função de ensinar a escrita e a língua padrão, a escola precisa livrar-se de vários mitos: o de que existe uma forma “correta” de falar, o de que a fala de uma região é melhor do que a de outras, o de que a fala “correta” é a que se aproxima da língua escrita, o de que brasileiro fala mal o português, o de que o português é uma língua difícil, o de que é preciso”consertar” a fala do aluno para evitar que ele escreva errado. Essas crenças produziram uma prática de mutilação cultural. O preconceito lingüístico, ao contrário dos demais preconceitos que sempre estão sendo atacados, continua, é aceito.

            Mas nos perguntamos: se já existe uma mudança de atitude como vimos nas políticas sociais de ensino, por que o círculo vicioso do preconceito lingüístico continua girando? Bagno através dessa pergunta tira a conclusão de que não existem somente três elementos no círculo vicioso, e sim quatro, chamados de comandos paragramatais. Os comandos paragramatais são todo esse arsenal de livros, manuais de redação de empresas jornalísticas, programas de rádio e de televisão, colunas de jornal e de revista, cd-roms, "consultórios gramaticais” por telefone e por aí a fora. O que eles poderiam representar de utilidade para quem tem dúvidas na hora de falar ou de escrever acaba se perdendo por trás desse preconceito que envolve essas manifestações da (multi)mídia. Essas manifestações só fazem perpetuar as velhas noções de que “brasileiro não sabe português” e de que “português é muito difícil.

              A metate deste capítulo é reservado por Marcos Bagno para citações e críticas aos  grandes perpetuadores desse preconceito lingüístico, como o professor Napoleão Mendes de Almeida, que era aclamado como “defensor intransigente da língua”, mas para ele existia os delinquentes da língua portuguesa. Marcos Bagno cita também  o livro “Não erre mais”, de Luiz Antonio Sacconi, que considera aqueles que não falam como a gramática prescreve como não conhecedores da sua própria língua e no seu livro não só encontramos preconceito lingüístico como preconceito social também (contra jornalistas,caminhoneiros,peões,italianos,segundo ele,perpetuadores dos “erros” da língua). Também encontramos outro exemplo dado por Marcos Bagno como autor de preconceito lingüístico, chamado Josué Machado que, além de escrever em diversas revistas,é também autor do livro “Manual da falta de estilo”. Josué se refere a língua que as pessoas utlizam como,erro tosco”,”ignorância”,”pecado”,ele sente-se mais autorizado a definir o “certo” e o “errado” do que os dicionaristas e gramáticos famosos, e novamente encontramos com o Josué Machado a ligação do preconceito lingüístico com o preconceito social em seu livro. O interessante em toda crítica feita por Marcos Bagno a esses seguidores da gramática tradicional, é que ele analisa o que eles diziam e explica o porquê de eles estarem equivocados, como  fez com o texto publicado no diário de Pernambuco por Squarisi,em que Squarisi chama todos aqueles que “erram” a língua de “caipiras”,”jecas-tatus” e ”matutos”.

              Por fim, os brasileiros, como falantes da língua portuguesa, não deveriam permitir que, por meio da mídia e de algumas pessoas de maior poder aquisitivo, o ser humano pudesse ser tão desvalorizado em sua principal condição: a de ser HUMANO social e Político.Nós somos a língua que falamos.




Mariane Pontes Frota

sábado, 4 de junho de 2011

A POLÊMICA DE "POR UMA VIDA MELHOR"


Inteirem-se do assunto. Na semana que vem, um artigo de opinião debatendo o caso.

Antes, comentem, opinem, façam suas considerações. 






Teófilo Leite Beviláqua

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RESUMO: PRECONCEITO LINGÜÍSTICO, LIVRO DE MARCOS BAGNO.


Em "Preconceito Lingüístico", Marcos Bagno desconstrói oito mitos arraigados à cultura brasileira sobre a língua do Brasil. Apresentaremos os dois primeiros. No entanto, sugerirmos a leitura, na íntegra, da obra.



Mito n° 1

“A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”
O primeiro mito apontado por Marcos Bagno é introduzido pelo título: “A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”, o que o autor classifica como “o maior e mais sério dos mitos” e como “(pre) conceito irreal”.
Bagno argumenta que este mito é prejudicial à educação porque retira a variabilidade linguística do que é ensinado nas escolas e passa a idéia da existência de uma única língua comum a todos os brasileiros, não se levando em consideração os múltiplos fatores inerentes a cada grupo da população.
Ainda, segundo o autor, o alto grau de variabilidade e diversidade linguística no Brasil tem como uma de suas causas a injustiça social, geradora de um abismo linguístico entre a norma padrão e não-padrão (presente na maioria dos brasileiros). Assim, se este mito for tido como verdade, haveria, como os sem-terra, os sem-língua, a grande maioria dos brasileiros que não tem acesso à “norma culta da língua, aquela norma literária, culta, empregada pelos escritores e jornalistas, pelas instituições oficiais, pe­los órgãos do poder.”
As próprias mensagens enviadas pelo governo são dirigidas à massa em norma culta, o que dificulta sua compreensão pouco habilitada ao reconhecimento das formas de prestígio da língua, excluindo-os, inclusive do acesso das “benesses” públicas. E isto fica evidenciado, também, na própria Constituição que, apesar de igualar todos perante a lei, não os iguá-la quanto à sua legibilidade, constituindo essa mais uma pista da necessidade não de a Constituição ser escrita em língua não-padrão, mas a de que todos os brasileiros tenham o mesmo acesso à norma culta que têm as classes privilegiadas economicamente.  
Apesar de a grande parcela dos brasileiros falar o português, não se pode dizer que haja uma “homogeneidade linguística”, pois há uma imensa diversidade linguística presente na língua. A escola e as instituições voltadas à educação precisam desmistificar o conceito de “unidade”, para “melhor planejarem suas políticas de ação junto à população amplamente marginalizada”, que traz para a sala de aula uma bagagem linguística que difere da que, naquele ambiente, será ensinada. É como se o aluno fosse aprender a língua estrangeira de sua própria língua.
Marcos Bagno finaliza o primeiro mito citando o PCN (Parâmetro Curriculares Nacionais) de 1998, onde se lê, entre outra coisa, o seguinte: “A variação é constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis. Ela sempre existiu e sempre existirá, indepen­dentemente de qualquer ação normativa”.

Mito n° 2

“Brasileiro não sabe português / Só em Portugal se fala bem português”
A grande mitificação que confere ao português de Portugal “superioridade” em relação ao “português brasileiro” tem raízes histórias, pois ainda temos o complexo de termos sido colonizados por um país tido como “civilizado”, ideo­logia, aponta Bagno, “impregnada em nossa cultura há muito tempo”.
No curso da história, com exemplos citados pelo autor, várias declarações se basearam em “posturas preconceituosas — perpetua­das ao longo dos séculos pela desinformação ou má informação — do que em análises científicas acuradas dos fatos lingüísticos”. Houve até quem profetizasse, devido à “corrupção do português” original e a sua má utilização, o “fim” da língua. Isto não ocorreu como sabemos. Um dos argumentos dos puristas, no que tange ao declínio do português se refere ao abuso de estrangeirismos, o que Marcos Bagno sugere que deve ser analisado sob a “perspectiva da dependência polí­tico-econômica (e conseqüentemente cultural) do Brasil (e de Portugal) para com os centros mundiais de poder”.
Dizer que o brasileiro não sabe o português e que só em Portugal se fala bem a língua é um mito reproduzido dentro das escolas. O português falado no Brasil, embora não se reconheça formalmente, já possui uma gramática própria e muito se distancia do português de Portugal. Tanto que em alguns casos, no intercruzamento dos dois, há sérios níveis de incompreensão no uso da língua entre ambos. Também na estrutura gramatical da língua, os dois países já se distanciaram em muito, e Marcos Bagno expressa e exemplifica tal distância, através, por exemplo, da citação do uso dos pronomes o/a.
Bagno afirma que no que diz respeito ao ensino do português no Brasil, o grande problema é que esse ensino é até hoje voltados para a norma lingüística de Portugal. Por isso, o erro de se pensar que o português só tem seu nível de “correção” se ouvido da boca de portugueses, como se eles falassem tudo “certo”.  Isto fere nossa identidade, que é também marcada pelo livre e independente uso de nossa construção da língua.
O certo é que o errado não existe. O erro é querer sugerir o “certo” à matriz de nossa língua pelo simples fato de ela guardar o “gene” formal do que falamos. Brasileiros e portugueses cometem seus desvios naturalmente, sem que isso prejudique a andar da língua ou sirva, tendenciosamente, para justificar que em Portugal, por originar o idioma, seja mais “puro” lingüisticamente que o Brasil.
A gramática normativa estabelece e obriga os brasileiros a, supostamente, falarem um português de Portugal, quando já deixamos, há tempos, a condição de colônia, quando já superamos Portugal em todos os âmbitos possíveis, e aqui se inclui o econômico, fora a evidente dimensão territorial. É óbvio que um país com as dimensões do Brasil, muitas vezes maior que Portugal, inevitavelmente, tem razões óbvias para que suas variantes sejam mais vivas que as da península ibérica. 

Teófilo Leite Beviláqua