segunda-feira, 6 de junho de 2011

RESUMO-A DESCONSTRUÇÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO

        Marcos Bagno inicia esse capítulo do livro “Preconceito Linguístico”com uma pergunta: como poderemos romper o círculo vicioso do preconceito linguístico? E neste capítulo será uma tentativa de se ter essa resposta. Lembrando que o circulo vicioso é: a gramática tradicional; os métodos tradicionais de ensino; e os livros didáticos.Todos eles já comentados na última postagem.

         Para encontrarmos a resposta da pergunta iniciada no capítulo, Bagno primeiro nos leva a algumas considerações. Ele comenta que já existem muitos professores alertados em debates e conferências ou pela leitura de bons textos que já não recorrem tão exclusivamente à gramática normativa. Só que infelizmente eles sentem falta de outros instrumentos didáticos que o ajudem nessa abordagem diferenciada em função da sociolingüística.

         Esse capítulo é essencialmente reservado a uma crítica, por que o acesso às formas prestigiadas de falar é exclusivo a poucas pessoas no Brasil? Diríamos que essa pergunta envolve razões políticas, econômicas, sociais e culturais. Podemos observar isso só na quantidade injustificável de analfabetos que existe neste país.Mas não estamos falando  só em analfabetos absolutos, existem aqueles que não compreendem textos mais longos, ou que ainda permanecem no nível básico e não são considerados completamente alfabetizados. Temos milhões de desempregados e ao mesmo tempo sobram vagas para cargos e funções que exigem um nível de formação um pouco acima daquela média. Com tantos analfabetos plenos e funcionais, lamentar a “decadência” ou “a corrupção” da “língua culta” no Brasil é, no mínimo, uma atitude cínica.

         Segundo, por razões históricas e culturais, a maioria das pessoas plenamente alfabetizadas não cultiva nem desenvolvem suas habilidades lingüísticas. Ler e, sobretudo, escrever não fazem parte da cultura das nossas classes sociais mais escolarizadas. Além disso, nossa população socioeconômica mais privilegiada não faz da leitura um de seus hábitos culturais mais freqüentes. Bagno fala que o ensino tradicional em vez de incentivar o uso das habilidades lingüísticas do individuo, deixando-o expressar-se livremente, age exatamente ao contrário: interrompe o fluxo natural da expressão e da comunicação com a atitude corretiva (e muitas vezes punitiva). Como consequência, temos a criação de um sentimento de incapacidade e incompetência do falante.

         Então realmente o problema está no modo como se ensina português e naquilo que é ensinado sob rótulo de língua portuguesa. A norma-padrão não corresponde à língua usada pelas pessoas cultas do Brasil nos dias de hoje, mas sim a um ideal lingüístico inspirado no português literário de Portugal, nas opções estilísticas dos grandes escritores do passado, nas regras sintáticas que mais se aproximem dos modelos da gramática latina, ou simplesmente no gosto pessoal de um gramático. A distância entre norma culta real (isto é, as variedades urbanas de prestígio) e a norma culta ideal (a norma-padrão convencional) são óbvias. Para separar o ideal do real, é necessário empreender a identificação e a descrição da verdadeira língua falada e escrita pelas classes privilegiadas do Brasil.

         É preciso escrever uma gramática da língua urbana de prestigio brasileira em termos simples (mas não simplistas), claros e precisos, com um objetivo declaradamente didático-pedagógico, que sirva de ferramenta e prática para professores, alunos e falantes em geral. Sem essa gramática que nos descreva e explique a língua efetivamente falada pelas classes mais letradas,continuaremos a mercê das gramáticas normativas tradicionais.

1. Mudança de atitude                                   

         Enquanto essa gramática não chega, temos que combater o preconceito linguístico.Segundo Bagno, para iniciarmos esse combate devemos ter uma mudança de atitude. Começando por elevar o grau da autoestima linguística e recusar os argumentos que visem menosprezar o saber linguístico de cada um de nós. Temos que nos impor como falantes competentes de nossa língua, acionar nosso senso crítico toda vez que nos depararmos com um comando paragramatical,filtrar as informações realmente úteis,deixando de lado as afirmações preconceituosas,autoritárias e intolerantes.Já da parte do professor,essas mudanças de atitude devem refletir-se na não-aceitação de dogmas,na adoção de uma nova postura(crítica) em relação a seu próprio objeto de trabalho.

         A gramática normativa tenta nos mostrar a língua como um pacote fechado, um embrulho pronto e acabado. Mas não é assim. A língua é viva, dinâmica, está em constante movimento.

2. O que é ensinar português

         Uma das maneiras que podemos também romper com o circulo vicioso do preconceito linguístico, é na prática de ensino.Precisamos rever toda uma série de “velhas opiniões formadas” que ainda nos dominam. Os métodos tradicionais de ensino da língua portuguesa no Brasil visam, por incrível que pareça, a formação de professores de português. O ensino da gramática normativa mais estrita, não serve para formar um bom usuário da língua em sua modalidade prestigiada, falada ou escrita. Os professores que devem conhecer profundamente a mecânica do idioma, porque são os instrutores, os especialistas, os técnicos. Mas não os alunos. Precisa-se então voltar para a descoberta de novas maneiras que permitam fazer dos alunos bons usuários da língua.

3. O que é erro

         Outro modo interessante de romper com o círculo vicioso do preconceito linguístico, segundo Bagno é reavaliar a noção de erro. O “erro de português “é, na verdade, mero desvio da ortografia oficial. A ortografia oficial é fruto de um gesto político, é determinado por decreto, é resultado de negociações e pressões de toda ordem (geopolíticas, econômicas, ideológicas). Mas existem ditos “erros de português” que não alteram a sintaxe nem a semântica do enunciado: o que mudou foi só a ortografia. Bagno nos afirma que ninguém comete erros ao falar sua própria língua materna, assim como ninguém comete erros ao andar ou ao respirar. Só se erra aquilo que é aprendido, naquilo que constitui um saber secundário. Em relação à língua escrita, seria pedagogicamente proveitoso substituir a noção de erro pela de tentativa de acerto.

4.Então vale tudo?

        Então pensaremos, com a eliminação da noção de erro, em termos de língua, vale tudo?Na verdade em termos de língua, tudo vale alguma coisa segundo Bagno. Vale: no lugar certo, no contexto adequado, com pessoas certas. Usar a língua, tanto na modalidade oral como na escrita, é encontrar o ponto de equilíbrio entre dois eixos: o da adequação e o da aceitabilidade.

 5. A paranóia ortográfica

        Marcos Bagno faz um comentário crítico à atitude tradicional do professor de português, que ao receber um texto produzido pelo aluno,procura imediatamente os “erros”, só se importando com a forma, sem se importar com o conteúdo. E é isso que Bagno chama de paranóia ortográfica. Para ele, saber ortografia não tem nada a ver com saber a língua. São dois tipos diferentes de conhecimento.A gramática se filia à tradição que atribui ao domínio da escrita um elemento de distinção social, que é na verdade um elemento de dominação por parte dos letrados sobre os iletrados. Existe um mito que diz que a escrita tem o objetivo de “difundir as idéias”,no entanto ,a sua finalidade é oposta, é ocultar o saber, reservá-lo a uns poucos para garantir o poder àqueles que a ela tem acesso. Portanto vamos abandonar a idéia de que quem escreve “tudo errado” é um “ignorante” da língua. O aprendizado da ortografia se faz pelo contato intimo e frequente com textos bem escritos, e não com regras mal elaboradas.

6. Subvertendo o preconceito lingüístico

        Bagno nos fala que por mais que isto seja triste, é preciso reconhecer que o preconceito linguístico está aí, firme e forte. Não podemos ter uma ilusão de querer acabar com ele de uma vez, porque isso só será possível quando houver uma transformação radical do tipo de sociedade em que estamos inseridos. Apesar disso, Bagno acredita que podemos combater com pequenos atos esse preconceito;com professores formados e informados, professores cientistas investigadores que abandonem a atitude repetidora e reprodutora de uma doutrina gramatical, com professores que sempre fazem crítica ativa na prática de ensino sobre essa gramática,e que diante de cobranças de pais, diretores ou donos da escola,mostrem que as ciências evoluem, e que a ciência da linguagem também evolui.



Mariane Pontes Frota
                  

3 comentários:

  1. O proposito da sociolinguistica é direcionada em termos linguisticos para uma democracia que traga dignidade a todos os falantes da lingua Portuquesa. Nâo podemos esquecer que todos temos o direito de conhecer , ter pleno dominio nas mais variadas formas se comunicar, mas , sem preconcetos, pois esse sim é desastre .

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  2. A pesar dos textos de Bagno serem bem didáticos, senti certa dificuldade nesse capítulo. Obrigada pelo esclarecimento. Ajudou-me bastante!

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